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Crise de sentido: transcendência e o status da pandemia.

Por Jonatan Cristian de Lima Vila Nova


Desde os hominídeos - com o desenvolvimento do córtex frontal para se adaptarem a condições extremas - a humanidade sempre foi confrontada com problema da sobrevivência. Em que pese o adiantamento racional e científico humano ao longo dos séculos ter proporcionado um modo de vida diferente com mais tecnologia e menos instinto, isso não implica que o problema da sobrevivência foi superado.


O transumanisno aponta para o aprimoramento da tecnologia e avanços na medicina no intuito de prolongar ou perpetuar a vida humana, um desejo formado nas dinâmicas da modernidade.


Em casos de surtos e pragas que ao longo da história dizimaram milhões, as reações são quase instintivas: ficar em casa e se proteger.


Ocorre que no atual cenário da pandemia ficar isolado em casa não é possibilidade para todos; e aos que conseguem se permanecer em isolamento, acompanhar o noticiário sobre a crise provocada pela pandemia significa também acompanhar a crise de governabilidade do país, ou seja, é acesa uma centelha para distúrbios de ansiedade aguda ou crise de pânico. Talvez o pânico seja somente mais uma reação físico-química de alguma região do cérebro dizendo – sobreviva – “fique em casa”.


Mas na realidade, algo de transcendente que emana da interioridade, transmite um aviso quase visível em cada mensagem positiva espalhada pelo mundo: ‘sobreviva’. Assim, num sentido ascético, seja numa dada prática ou outra, preocupar-se com a sobrevivência do outro e com a própria demonstra complacência e reciprocidade, símbolos e práticas que evocam o valor da vida.


Trata-se de notar que, quando afrontado com uma força que mata, não basta somente ter o córtex desenvolvido para encontrar soluções racionais, há no mínimo, uma prática de rogar aos céus para que o pior se dissipe. No inconsciente coletivo - para evocar um termo junguiano - assenta símbolos que demonstram a fragilidade, mas também ressaltam a transcendência.


“Ser” e estar num “tempo”, sendo humano, implica em zelar por condições físicas e outras completamente ‘espirituais’ no que compõe a prática de crer e ter fé em algo melhor. É proeminente frágil e estranho o comportamento religious da vida humana. Talvez seja esse fator - o religious -que ofereceu caminhos transcendentes, quase que literais, para sobreviver, seja à pestes, guerras ou pandemias.

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