Por Talita Oliveira
Em fevereiro estreou, no streaming da STAR+, uma série brasileira de nome Santo Maldito. A série conta a história de Reinaldo (Felipe Camargo), um professor de cursinho que possui alguns livros publicados sobre a não existência de Deus. Esta primeira temporada tem oito episódios e, no decorrer da história, descobrimos por que Reinaldo manifesta tanta raiva em relação à Igreja e propaga a certeza de que Deus não existe. Sua vida dirige-se de cabeça para baixo quando sua esposa, Maria Clara (Ana Flávia Cavalcanti), está em uma avenida no Rio de Janeiro e acaba por assistir uma briga de trânsito e, por acaso, leva um tiro que a deixa em estado vegetativo. Reinaldo, então, se vê com uma conta gigantesca do hospital e sabe que sua esposa provavelmente irá vegetar para sempre. Como não carrega nenhuma religiosidade e com medo de não ter condições de ficar pagando o hospital para cuidar de sua esposa “morta”, resolve, então, retirar seus aparelhos. No cenário do hospital vemos um homem que ama muito a esposa e prefere tirar a vida dela, com a convicção de que nada mais existe depois morte. Ali também está um enfermeiro, que tem uma vida devotada a Deus e que colaboraria com o ato. Quando Reinaldo atua para acabar com o sofrimento da esposa, o enfermeiro, ao invés de intervir, apenas filma a situação. De repente, ao tirar o tubo de Maria Clara, ela acorda, como que milagrosamente. O enfermeiro, depois, mostra o vídeo para o pastor da sua igreja e este passa acreditar que Reinaldo é o profeta que ele tanto procura. O pastor vai até Reinaldo e lhe oferece dinheiro para que ele pregue em sua igreja. É uma igreja pequena, na periferia do Rio de Janeiro, com poucos membros, mas se percebe que estes, apesar dos reveses da vida, ainda não desistiram de viver; acreditam que a fé em Deus irá socorrê-los. Reinaldo é um cético; sabe que precisa pagar suas contas, mas não quer enganar as pessoas. O desespero, todavia, bate mais alto e ele acaba cedendo: aceita fazer os cultos e consegue falar o que as pessoas precisam ouvir, mas sem dizer que acredita em Deus. E conforme vai conhecendo as pessoas (uma mulher que apanha do marido; um pai que luta para tirar sua filha das drogas etc.) ele percebe que, às vezes, essa fé é o que mantém a esperança das pessoas. Recomendo essa série (alguns personagens poderiam ser melhor explorados e outros, menos) para pensar em como tratamos das nossas crenças em relação ao outro. O Brasil é um país com vasto pluralismo religioso e a série é uma boa oportunidade para fazer com que nós, Cientistas da Religião, pensemos no respeito que deve existir entre as diversas crenças. Não nos cabe “mostrar a nossa verdade”; pouco importa se acreditamos em Deus ou não, ou se somos cristãos, umbandistas, budistas, espíritas ou se praticamos rituais de diversas outras religiões. É isso que torna o ser humano único; cada qual possui a sua fé, pratica seus ritos e não podemos dizer quem está certo ou errado. Deus é um improvável e não um impossível. O melhor que fazemos é respeitar a religião (ou a falta dela) conforme a vontade de cada ser humano.
Escrito por Talita Oliveira
Editado por Ezio Frezza Filho
Organizado por Giulia Quinteiro
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