Por Glaydson de Oliveira Souza
Porque falar de pluralismo religioso no Brasil sem abordar a perspectiva decolonial é incorrer em epistemicídio. Se o pluralismo pretende abarcar com legitimidade a multiplicidade dos fenômenos religiosos, deve se atentar ás epistemologias do sul.
A decolonialidade não será categoria para o estudo das religiões hegemônicas, pois tais religiosidades já possuem campo epistemológico em suas teologias. Seu objeto será a abordagem das tradições e saberes de resistência, a saber, as tradições dos povos originários e as tradições afro-diaspóricas.
A necessidade dessa abordagem se dá na medida em que as cosmovisões dessas tradições rompem com a estrutura do capitalismo vigente já que precedem a ele, estando sob a égide do que denominamos ‘paradigma ecológico’.
A não adequação ao sistema hegemônico vigente impinge a essas tradições constantes tentativas apagamento: a isso chamamos de epistemicídio. O epistemicídio dessas religiosidades e culturas provoca uma interseccionalidade que recai, respectivamente: no preconceito (por desconhecimento), na intolerância (por recusa ás cosmovisões que vão contra o sistema), no racismo religioso (pela marginalização e demonização dessas cosmovisões) e também nas violências (visando combater aquilo que é diferente).
A abordagem decolonial não pretende defender ou resguardar essas tradições, uma vez que isso contraria o princípio do agnosticismo metodológico do cientista da religião; pelo contrário, a decolonialidade possibilita o estudo dessas tradições dentro das realidades em que estão inseridas, respeitando os saberes e o lugar de fala dos detentores daqueles conhecimentos ancestrais, em sua maioria produzidos de forma oral e assim transmitidos.
Longe de ser uma utopia, a abordagem decolonial em Ciências da Religião é uma necessidade e reflete o avanço da disciplina e sua relevância social, notadamente ao possibilitar questionamentos de situações de dominação e imposição que - nunca resolvidas - agora voltam com toda força, exigindo honestidade na análise.
A consciência dessa abordagem na esfera do pluralismo possibilita não apenas o respeito a essas tradições de resistência, mas também a abertura ao diálogo por meio da ecologia dos saberes.
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