Por Talita Oliveira
Marina Abramović, nascida em 1947 na antiga Iugoslávia, é uma das maiores artistas performáticas que conhecemos; é ela a protagonista do documentário Espaço Além, disponível na Amazon Prime, que trata da diversidade de rituais religiosos que ocorrem em diversos pontos do Brasil, principalmente no centro-oeste. O documentário é de 2016 e foi dirigido por Marco Del Fiol. Na época das filmagens, Abramović estava passando por momentos de turbulência pessoal; em seu livro Pelas Paredes (recomendamos), ela escreve sobre o término de seu relacionamento com o grande amor de sua vida e sobre o esforço em continuar sem ele. Sua dor é tão grande que sente a necessidade de exorcizar esse amor, logo lembrando do Brasil, que já conhecia por experiências artísticas, como o lugar ideal para realizar esse exorcismo. O documentário então mostra a saga de Abramović, visitando várias microrregiões em busca de curandeiras e curandeiros; por exemplo, ela vai aos espaços de cura de João de Deus, em Abadiânia, e aos locais de ritos sagrados da ayahuasca, na Chapada dos Veadeiros, ambos no interior de Goiás; também presencia os rituais dos adeptos do Vale do Amanhecer, em Brasília, e as práticas do sincretismo religioso na Bahia. Por ser uma artista performática, ela acaba percebendo as semelhanças de seu trabalho com os rituais das pessoas em suas manifestações religiosas. Assistindo ao documentário, observamos como os rituais se fazem presentes em qualquer meio; vemos, também, que, para se alcançar um objetivo, é preciso que as pessoas estejam envolvidas e preparadas para o antes e para o depois do ritual. Abramović percebe que, para realizar as suas performances, ela utiliza esses mesmos princípios: prepara-se meses antes de uma atividade e, quando termina, dedica um tempo para se “libertar”. Ela acredita que, para que uma apresentação seja exitosa, as pessoas precisam se envolver em seu ato e acreditar no que estão fazendo. O documentário nos faz refletir sobre dores e amores; Marina Abramović é uma mulher forte, que já passou por vários momentos de dor física e psicológica em suas performances; sabe, pois, como se livrar dessas dores. Todavia, quando experimentou a dor profunda da perda do amor, viu-se na necessidade de buscar outros meios e rituais de cura. Como cientistas da religião é interessante observamos a trajetória de Abramović: passa por diversas religiões e pelos seus experimentos, mantendo sempre o respeito por todas elas, sem julgamentos e valorações. Ela é muito bem recebida em cada uma delas e retribui essa boa hospedagem.
Escrito por Talita Oliveira
Editado por Ezio Frezza Filho
Organizado por Giulia Quinteiro